Doria faz jogada arriscada

O fiasco nas pesquisas e pressionado por correligionários, João Doria arriscou uma jogada de alto risco. Nos planos de Doria renunciaria a candidatura ao Planalto e completaria o mandato de governador em São Paulo. Mas é um blefe para o PSDB garantir sua candidatura presidencial.

A tática de ameaçar implodir o acordo de 2018, que é sair do governo SP para o seu vice Rodrigo Garcia se viabilizar candidato nas eleições de outubro, e conquistar apoio à sua candidatura, mas o tiro pode sair pela culatra.

Porque mesmo o PSDB cedendo para Doria e o governador respeitando o acordo de 18, no entanto, nada garante que no fim do prazo para registrar as candidaturas o nome de Doria seja o que o partido indique.

Em política traição faz parte do jogo, já o traidor é renegado e o que Doria fez foi ameaçar uma traição contra o seu vice para garantir a sua candidatura. Doria já tem a pecha de traidor e de não cumprir acordos. Também pode ser, não descarto, que Doria queria criar fato político para sua campanha.

Dilema tucano

Pesquisa Ipespe/XP Investimentos mostra Lula (PT) liderando a corrida presidencial com 44%, seguido por Jair Bolsonaro (PL) com 24% e Ciro Gomes (PDT) e Sergio Moro (Podemos) empatados em 8% cada. Este é o quadro principal. Depois, vem os candidatos “nanicos” com números tão insignificantes que nomearei apenas um para servir se gancho: João Doria (PSDB), 2%.

Doria foi o candidato escolhido nas prévias tucanas derrotando o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Recentemente, Doria recebeu apoio de FHC, que já havia declarado voto nas prévias, mas nada o faz ganhar pontos nas pesquisas, nem mesmo a fama de ser o “pai da vacina” que o partido usa para quebrar a resistência ao nome do governador paulista. Doria tem na sua rejeição recorde uma âncora que afunda a sua candidatura.

E lá vai o PSDB repetir o desempenho pífio de 2018 quando Geraldo Alckmin terminou em 4° lugar com 5% dos votos válidos e Doria pode bater esse recorde negativo com menos votos, o que faz o agora ex-tucano e o quase vice de Lula abrir um sorriso de orelha a orelha.

Quem também sorrir é Aécio Neves, desafeto público de Doria. Aécio apoiou Leite nas prévias e trabalha nos bastidores para o partido não lançar candidato próprio avisando que a candidatura derrotada de Doria pode inviabilizar o partido na eleição para o Legislativo.

De fato, um candidato com 2% de intenções de voto prejudica o partido na eleição legislativa. Os tucanos vivem um dilema: prosseguir com uma candidatura natimorta ou abrir os olhos para a realidade onde o PSDB não faz mais parte do pelotão de elite.

João Doria afunda a terceira via

Segundo o Datafolha, João Doria (8%) está em quinto lugar no estado de São Paulo, atrás de Lula (31%), Jair Bolsonaro (24%), Ciro Gomes (11%) e José Luiz Datena (9%).

Doria perde até para o Ciro e o Datena em SP, estado que governa. PSDB vai dar um tiro no próprio pé se Doria vencer as prévias do partido.

Doria e a sua rejeição são a âncora que afunda a terceira via.

Crise no PSDB

Após o DEM, Rodrigo Maia rompendo com ACM Neto, o PSDB também entrou em crise depois da eleição para as mesas do Congresso. João Doria quer o deputado Aécio Neves fora do partido. Doria não engoliu deputados do partido votando em Arthur Lira contra Baleia Rossi, e Aécio seria o líder dos que acusa de ser “adesistas”.

Doria deseja um PSDB oposicionista e bem longe de Jair Bolsonaro, planeja assumir a presidência do partido para já assegurar a candidatura presidencial e atrair descontentes no DEM, principalmente Rodrigo Maia e Rodrigo Garcia. O grupo de Aécio foi buscar guarida no Rio Grande do Sul, com o governador Eduardo Leite. Leite é um potencial rival de Doria pela candidatura do PSDB em 2022. Em entrevista para CNN Brasil, Eduardo Leite disse que “liderança não se impõe” em recado para Doria.

Doria queima a largada pela candidatura presidencial abrindo uma crise desnecessária no tucanato. Quando era prefeito e com poucos meses no cargo também começou a articular para ser o candidato tucano em 2018. Não conseguiu tirar a candidatura de Geraldo Alckmin e se contentou em disputar para governador. Se queimou na cidade de São Paulo precisando do famoso “BolsoDoria” e da capilaridade do PSDB no interior paulista.

Bolsonaro e Doria antecipam 2022

Doria não poupou palavras na crítica ao presidente; Bolsonaro não negou a briga

Não é de hoje que Jair Bolsonaro e João Doria se odeiam mutuamente e vez em quando trocam acusações pela imprensa.

Pois voltaram a se estranhar. Em coletiva de apoio ao candidato a presidente da Câmara dos Deputados, Baleia Rossi, Doria não poupou palavras na crítica ao presidente e chegou ao ponto de chama-lo de “facínora”.

Ao apresentador Datena, Bolsonaro não negou a briga e chamou o governador de “moleque” entre outros xingamentos e acusações.

Ambos fazem uma prévia da possível disputa presidencial em 2022.

João Doria já havia elevado o tom contra Jair Bolsonaro mais cedo e falado em “genocídio”, proclamando o Congresso, imprensa, sociedade civil para se levantar contra o presidente. Foi um chamamento para o impeachment sem falar a palavra.