A força do bolsonarismo e a importância da auto contenção do STF

STF foi uma barreira para o golpismo de Bolsonaro. Mas o tribunal gostou de concentrar poder demasiado, de exceção

O Brasil vive clima de campanha permanente, isso desde 2014. Despois das eleições que sagrou Dilma Rousseff (PT) reeleita com margem estreita de votos, os derrotados não saíram do palanque. O candidato que perdeu, Aécio Neves (PSDB), erroneamente recorreu a uma auditoria de votos na urna eletrônica embarcando em teorias conspiratórias de fraude. Ali Aécio abriu a porta do inferno para contestações dos resultados das eleições por parte de Jair Bolsonaro (PL), também derrotado em 2022 por pequena diferença.

Mas a culpa por esse clima de campanha permanente também é da Operação Lava Jato que criminalizou a política e as jornadas de junho de 2013, que, graças as mídias sociais para bem ou mal, politizou as pessoas. Diria que foi mais para o mal do que para o bem.

Enroscado em inquéritos comandados pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, Bolsonaro tenta mostrar força popular para tentar intimidar a justiça e escapar de condenações e ser preso por vários crimes que lhe são atribuídos. Dos mais irrisórios como a falsificação do cartão de vacinação à tentativa de subverter a democracia com uma tentativa de anular a eleição que saiu derrotado (pela primeira vez um presidente não conseguiu a reeleição) por meio de decretos de Estado de sítio e de defesa, ou seja, um Golpe de Estado.

Depois de fazer uma grande manifestação em São Paulo, em 25 de fevereiro, patrocinada pelo pastor Silas Malafaia, hoje Bolsonaro realizou outra manifestação agora no Rio de Janeiro. E, pelas imagens (acima), lotou novamente. Mostrando que o bolsonarismo continua forte e resiliente. Mais do que isso: mostra que a tese que o Brasil vive sob censura e caminha para uma ditadura é atraente.

Neste espaço tem textos de apoio ao STF e afirmando que o tribunal era a última barreira para o golpismo de Bolsonaro, que passou boa parte do mandato desafiando instituições, principalmente o Supremo por não permitir que ele afrontasse a Constituição e a separação de poderes. O conflito se acentuou na pandemia de covid-19 quando o estão presidente não acreditou na gravidade da doença, foi contra medidas de isolamento até então única maneira de evitar que o vírus não se poliferasse e desdenhou da vacina apostando em remédios duvidosos para combater o vírus. O STF ficou do lado de governadores, o que irritou Bolsonaro.

Outro ponto de discórdia foi sobre o voto impresso. Bolsonaro não confiava na urna eletrônica e muito provavelmente não confia até hoje. Mentiras sobre a urna eletrônica se proliferaram nas redes sociais antes, durante a eleição e após o pleito. Tentou em 2021 que o Congreso Nacional aprovasse uma PEC do voto impresso. A Câmara barrou com forte lobby do então presidente do TSE ministro Luis Roberto Barroso. Fomos para a eleição com a urna eletrônica e sem voto impresso ou auditável, como Bolsonaro e seus aliados e apoiadores chamam. O presidente perdeu no segundo turno (50,90% a 49,10%) e não reconheceu a derrota. Tentou anular a eleição com uma intervenção no TSE se apoiando nas Forças Armadas. Não conseguiu apoio suficiente dos comandantes das Forças e fracassou fugindo para os EUA para não passar a faixa presidencial para o vencedor da eleição, o presidente Lula (PT).

Veio o 8 de janeiro de 2023 com milhares de seus apoiadores invadindo Brasília e depredando os prédios dos Três Poderes. O objetivo do tumulto era forçar as Forças Armadas a agirem e tomar o poder. Mas, de novo, os militares não se submeteram e não violaram a Constituição.

No início do texto disse que o bolsonarismo está forte e o discurso de censura, que o Brasil está indo para uma ditadura, é atraente. Isso é culpa também do STF. Como também disse nesse texto o STF foi uma barreira para o golpismo de Bolsonaro. Mas o tribunal gostou de concentrar poder demasiado, de exceção, não abrindo mão quando o bolsonarismo foi derrotado. Passou da hora do próprio tribunal fazer uma auto contenção se limitando o que a Constituição lhe outorga. Alexandre Moraes faria um bem ao país, ao próprio tribunal se levantasse todos os sigilos dos inquéritos que comanda, parasse de se sentir como o “Xerife da República” e colocasse fim a esses inquéritos concluindo-los. O STF precisa agir sem medo, mas com parcimônia e dentro da Constituição. 

Autor: João Paulo

Meu nome é João Paulo, brasileiro, nordestino. Gosta de futebol, é torcedor do Palmeiras e do Fortaleza. Ama a política, não os políticos, mas é contra a demonização deles.

Deixe sua opinião