TRAIÇÕES AO BOLSONARISMO

Renan Santos*

Carluxo deve estar em pânico. Os últimos dias mostraram uma série de movimentações no tabuleiro dos Bolsonaro que denunciam um racha interno inconveniente e perigoso.

Dois focos desse racha são:

– Pablo Marçal e seu prestígio junto ao eleitorado de Bolsonaro

– Influenciadores cansados do “frouxonarismo”

Ambos os focos acontecem de maneira autônoma, mas se retroalimentam mutuamente, dado que demandam respostas imediatas do comando da família.

O primeiro deles é liderado por um influenciador oportunista, que constrói prestígio e following abraçando o ex-presidente (enquanto captura sua base de apoio, tanto de seguidores quanto de políticos). Dezenas de parlamentares foram abordados pelo coach, sabedores da sua capacidade futura de substituir Bolsonaro.

Influenciadores diversos já estão usando suas redes de páginas e perfis para cultuar o candidato a prefeito. É o caso do oportunista “Welton Freitas”, que organiza grandes collabs no Instagram e substitui Bolsonaro por Marçal como grande “herói” da direita (instagram.com/reel/C8Ay7YZhI…).

A ida de Marçal ao congresso, na última semana, assustou a família oficial. Foram dezenas de encontros, uma estranha proximidade com Nikolas, uma vassalagem explicita de Cleitinho e supostas promessas de “apoio em redes” e “envio de recursos” por parte do coach. Não duvido — mas ele sequer precisa disso. Marçal ganhará apoio caso se firme como o “futuro”. Os apoiadores bolsonaristas sabem disso.

O segundo foco ficou explícito na manifestação deste domingo. Convocada por influenciadores insatisfeitos e estrelada por deputados de segunda linha (Zambelli e Príncipe) + novistas procurando protagonismo (Dallagnol, Marcel e cia), foi um teste de independência de um grupo que gostaria de conduzir — para além de Bolsonaro — as “brigas da direita” com STF e PT.

O ato foi “desconvocado” por Jair na última semana, mas a despeito disso, aconteceu. Flopado, teve seu fracasso denunciado e “celebrado” por aliados fieis de Carlos Bolsonaro. Podemos esperar retaliações aos envolvidos, para além de Carluxo? Ainda não sabemos. Mas a primeira tentativa de colocar o “bloco na rua” sem Bolsonaro está aí.

O que eu acho disso?

É meio repetitivo falar que “Bolsonaro construiu seu apoio com mercenários”, que os influenciadores e deputados estão lá pelo “oportunismo e pelo medo, e que “procuram uma saída honrosa” do cabresto de Carluxo. Tudo isso é óbvio.

Também é óbvio afirmar que a base de deputados de Bolsonaro não vale o que come, que gente como Dallagnol trai até a mãe em nome do carreirismo, e que essa turma toda, junta, destruiu o campo da direita, transformou parte da população em zumbi e defendeu toda sorte de merda em nome do prestígio compartilhado de Bolsonaro. São todos filhos da puta.

O ponto central é que Bolsonaro, inelegível e sem rumo, não fornece um caminho que alimente esta base. Influenciadores precisam de fatos e aventuras; deputados precisam de um projeto. Enfrentar Xandão é duro e arriscado, e nem sempre rende o que deveria. É uma briga quase personalíssima de Jair, e o custo compartilhado é alto. Seria muito mais fácil seguir uma liderança sem tais problemas, com horizonte de poder descomplicado. Tarcísio e Marçal representam isso.

A massa de eleitores se cansará destas disputas. Ela precisa de outro demagogo com poderes místicos que “resolva” os problemas do Brasil via frases de efeito. Marçal faz isso — melhor do que qualquer um. É uma aposta. Outra é tentar construir essa luta antissistema, como propõe os revolucionários de Miami, para além de Bolsonaro. Eles consideram o presidente um frouxo, e não querem depender de seus humores e dos interesses de Valdemar.

É válido lembrar que as manifestações de Bolsonaro, neste ano, acontecem em cidades diferentes, como turnê, e tem como objetivo o culto ao presidente e o apoio a seus candidatos. É um comício do PL.

*coordenador nacional do Movimento Brasil Livre – MBL

Autor: Brasil Decide

Política com opinião e debate.

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